Se de um lado, a cidade se surpreende vendo Rogério Lins e Jorge Lapas unidos; por outro, a surpresa é ver João Paulo Cunha apoiando Emídio e separado de seu pupilo Gelso Lima que voltou a apoiar Lins.
Por Renato Ferreira -
O ex-senador e ex-governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, é autor de uma frase que ficou na história da política brasileira. O saudoso e velho político das Alterosas disse: "Política é como nuvem. Você olha, ela está de um jeito; olha de novo, ela já mudou". É assim mesmo que funciona a política do Brasil. Hoje, temos mais de 30 partidos, porém, sem nenhuma ideologia que poderia nortear candidatos e eleitores, por exemplo, dando indicações se o político é mais liberal ou mais estatizante. É tudo farinha do mesmo saco, como diz o ditado popular.
Em épocas de campanhas eleitorais, como esta de 2020, esta frase de Magalhães Pinto fica ainda mais evidente. E um dos maiores exemplos dessa camuflagem política é o que o ocorre na cidade de Osasco, região Oeste da Grande São Paulo, pelo menos no primeiro turno desta campanha em tempos de pandemia. No segundo turno é possível que o quadro mude, como sempre acontece.
Mas, nesse primeiro turno, o atual prefeito Rogério Lins (Podemos), além de ter nas mãos a máquina administrativa, apresenta também a maior aliança partidária, o que por si só não é garantia de vitória nas urnas. Para constatar isso, basta verificar a história das últimas eleições, quando o candidato à reeleição sempre consegue o apoio da maioria dos partidos e de parlamentares da Câmara Municipal, porém, com o desenrolar da campanha e dependendo de quem passa pro segundo turno o quadro muda como também os apoios abertos e velados.
Assim, neste primeiro turno, estão com o Lins 16 partidos, numa verdadeira Arca de Noé. Trata-se de uma aliança que engloba de Podemos a PCdoB e de DEM e PSDB a PV e PDT. Partidos que, na maioria, em 2016, estavam em lados opostos. Osasco tem mais seis candidatos a prefeito: Dr. Lindoso (Republicanos). Emídio (PT), Reinaldo Mota (PRTB), Dr. Gaspar (DC) e Simony dos Anjos (PSOL). Candidatos que, no máximo, reúnem mais dois ou três partidos em suas chapas majoritárias. Não existem mais alianças para o Legislativo.
Separados, juntos e misturados

Ana Maria Rossi, Rogério Lins, Francisco Rossi e Gelso Lima
Uma das primeiras surpresas em termos de alianças partidárias em Osasco, foi, sem dúvida, a reaproximação de Rogério Lins (Podemos) e Jorge Lapas (PDT). Os dois foram adversários no segundo turno em 2016, numa das campanhas mais ferrenhas da cidade, quando ambos trocaram críticas, denúncias e onde teve até prisões de cabos eleitorais distribuindo jornais falsos.
Agora, no entanto, como se nada tivesse acontecido há menos de quatro anos, a não ser a reprovação (num primeiro momento) e depois a aprovação das contas de Lapas na Câmara Municipal pelos mesmos vereadores, Lins e Lapas esqueceram as críticas e seus discursos de 2016. Agora, um serve para o outro. Resta saber se ambos servirão também para os seus eleitores da campanha passada.
Rogério Lins resolveu também, mesmo depois de severas críticas que recebeu do ex-prefeito Francisco Rossi, anunciar a sua atual vice, Ana Maria Rossi, esposa de Rossi, como candidata para a chapa de 2020. Segundo Lins, "não se mexe" em time que está ganhando.
João Paulo com Emídio
e

Emídio de Souza, Cida Cunha, Silvio Neves e João Paulo Cunha
Outra surpresa que o primeiro turno de Osasco apresenta é sobre uma intriga interna entre as duas maiores lideranças petistas da cidade: o ex-prefeito e, hoje, deputado Estadual, Emídio de Souza, e o ex-deputado Federal, João Paulo Cunha, fundador do PT em Osasco e um dos maiores quadros do partido de Lula no estado de São Paulo.
Mesmo dentro do PT, não é novidade pra ninguém que João Paulo e Emídio se tornaram desafetos após o episódio do Mensalão, quando João Paulo, que chegou à Presidência da Câmara dos Deputados, acabou sendo condenado tendo ficado algum tempo preso em Brasília. Durante a prisão, o ex-deputado, que se formou em Direito e atua como advogado, disse a este jornalista que durante a sua prisão, recebeu apoio e palavras de carinho de seu eterno adversário político em Osasco, Celso Giglio, como também a visita de Francisco Rossi. Por outro lado, ele diz que, jamais recebera um telefonema do Emídio e nem do também ex-prefeito Jorge Lapas, eleito pelo PT, em 2012. João Paulo não escondia sua mágoa com esses (ex) companheiros.
Essa desavença com Emídio levou, inclusive, ao rompimento total entre os dois nas eleições de 2016, quando João Paulo, de forma velada, fez campanha para Rogério Lins. O ex-deputado chegou a fazer um vídeo ao vivo em frente á Prefeitura de Osasco, no dia seguinte da vitória de Lins contra Jorge Lapas, ex-PT e que disputou a reeleição pelo PDT.
Criador e criatura

Gelso Lima voltou a apoiar Rogério Lins
E um dos companheiros inseparáveis de João Paulo Cunha em todas essas campanhas foi Gelso Lima, ex-secretário municipal nos governos de Emídio (dois mandatos), Lapas e Lins. João Paulo e Gelso Lima estão juntos desde quando o PT chegou pela primeira vez à Prefeitura de Osasco, em 2005, com a vitória de Emídio de Souza, ali ainda com total apoio do ex-deputado Federal. Como diz nos bastidores políticos, Gelso é cria política de João Paulo Cunha.
No entanto, agora, em 2020, pelo menos no primeiro turno criador e criatura estão em campos diferentes. Depois de uma aproximação comvereador e candidato Dr. Lindoso, quandochegou a ser apresentado como futuro coordenador da campanha do Republicanos, Gelso Lima deu reviravolta surpreendente e voltou ao grupo político de Rogério Lins. Deste, sim, Gelso, filiado ao Patriota, é o coordenador da campanha do Podemos.
Até esta sexta-feira, 02/10, poderia ainda restar alguma dúvida sobre o apoio de João Paulo Cunha ao Emídio. Mas, durante o lançamento da campanha para vereadora de sua irmã, Cida Cunha, Cunha, João Paulo fez severas críticas à administração de Rogério Lins e pediu votos para Emídio de Souza.
Durante o evento, que contou também com a presença do candidato a vice do Emídio, Pastor Silvio Neves (PTB), e foi transmitido pelo Facebook, João Paulo elogiou Cida Cunha, dizendo que Osasco ganhará muito com a sua eleição para a Câmara Municipal. "Cida é uma batalhadora e sempre trabalhou vizando a melhoria de vida dos mais humildes" E também não mediu palavras para criticar Lins.
Para João Paulo, o governo de Rogério Lins "é formado de gente despreparada e sem compromisso com a cidade". "Há quatro anos, Osasco vive sob um governo de improviso e o nosso povo sofre com esse despreparo em áreas essenciais como Educação, Habitação, Segurança e Saúde. Precisamos eleger novamente o Emídio, um político tarimbado e que tem experiência, pois, já foi prefeito por oito anos e cuidou de nossa cidade", afirmou João Paulo Cunha. (O jornalista Renato Ferreira é editor do Portal Notícias & Opinião)